Da assessoria
Segundo pesquisa recente, durante a pandemia, pacientes de hospitais públicos tiveram 78% mais mortes ao serem internados em UTI quando comparados aos índices de hospitais privados
Referenciado como um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública no mundo, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi colocado à prova nos últimos 15 meses, desde que o primeiro caso positivado de covid-19 foi confirmado no País, mais precisamente em 26 de fevereiro de 2020. Diante desta terrível pandemia, fica uma grande pergunta no ar: a saúde brasileira estava realmente preparada para encarar tamanho desafio?
Praticamente tudo pode ser atendido pelo SUS. De uma simples avaliação da pressão arterial até o transplante de um órgão, a missão da saúde pública brasileira é garantir o acesso integral, universal e gratuito para toda a população do País, conforme prevê a Constituição Federal. Infelizmente, tem sido muito difícil honrar com esse compromisso por conta do alto número de positivados pelo novo coronavírus e a necessidade emergencial de atendimento médico e internações.
Precisamente nesta sexta-feira, 7 de maio de 2021, o boletim oficial apontava o lamentável número de 417 mil mortes por covid-19 no Brasil. E não cabe aqui apontar culpados, mas é válida a reflexão sobre os desafios do SUS daqui para frente, com a expectativa de vacinar toda a população brasileira até dezembro deste ano, quando, ainda assim, não estaremos livres das sequelas de um vírus cruel e que, infelizmente, pode ser “apenas o vírus da vez”. Afinal, outras pandemias poderão continuar desafiando os sistemas públicos de saúde em todo o Planeta Terra.
Alguns dados assustam a comunidade médica brasileira, inclusive os membros da Frente Parlamentar Mista da Medicina (FPMed), do Congresso Nacional. Como exemplo, pode ser citado o alto número de mortes por pessoas que não resistiram às implicações de saúde causadas pelo vírus de covid-19 após internamento pelo SUS. Dados do projeto UTI´s Brasileiras[1] mostram que 29,7% dos pacientes morrem depois de ter covid-19 nas UTI´s de hospitais privados, enquanto que na rede pública esse número sobe para 52,9%, um índice 78% maior se comparado às redes privadas de saúde.
Os dados são de uma amostra de 652 hospitais (403 privados e 249 públicos) do projeto, que tem monitorado pelo menos 25% das UTI´s brasileiras. As informações são compiladas pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) e servirão de benchmark (busca de melhorias de gestão via pesquisa e dados) a gestores de saúde. No caso dos intubados, segundo o projeto, são 72,4% as mortes na rede pública e 63,6% as que ocorrem nas particulares.
O estudo aponta também que as internações são mais demoradas na rede pública do que na particular. Ficam internados durante mais de 7 dias 54,2% os pacientes nas unidades de saúde dos governos. Nos hospitais privados, são 48,6%.
Nota 5
Na opinião da médica Ligia Bahia[2], doutora em saúde pública e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o SUS tirou nota 5 até o momento nesta pandemia. Para o site de notícias Nexo, a doutora disse ser angustiante a situação do brasileiro que busca atendimento médico emergencial pelo SUS e que nem sempre consegue ser atendido.
Os médicos e demais profissionais da linha de frente durante o enfrentamento contra o vírus também estão reféns de toda esta situação calamitosa e que envolve, diariamente, a vida de milhares de pessoas.
“A população que procura o SUS não tem certeza se será atendida e, se for, não sabe como será a qualidade da atenção prestada. Ao longo da pandemia, faltaram testes, faltou oxigênio e faltaram oxímetros em unidades básicas de saúde, assim como faltaram equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde. Depois houve déficit de respiradores e de leitos, e, por fim, de medicamentos para intubação e de vacinas”, lamentou Ligia Bahia em sua entrevista para o Nexo[3].
[1] Projeto UTI´s Brasileiras: http://www.utisbrasileiras.com.br/o-projeto/
[2] Currículo Lattes: https://www.escavador.com/sobre/5371681/ligia-bahia
[3] Entrevista para o site Nexo: https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2021/05/01/%E2%80%98De-patinho-feio-o-SUS-virou-um-cisne-sem-recursos%E2%80%99